![]() Quantas vezes, ainda que na presença de alguém, os jovens têm a nítida sensação que em qualquer momento podem ser abandonados? Quantas vezes, diante de um atraso, sentimos verdadeiro pânico? Quantas vezes algumas pessoas desesperam diante da possibilidade da pessoa amada nos deixar? Quem viveu o abandono durante a infância pode sentir um medo incontrolável de ser deixado, procurando evitar a todo custo ser abandonado novamente. Quando falamos de abandono não é apenas em casos em que uma criança é literalmente abandonada por seus pais, a quem se espera ser amada e cuidada, mas aquelas que são abandonadas quando deixadas constantemente ao cuidado dos amigos, dos avôs, preterida e colocada em segundo plano por múltiplos afazeres dos seus progenitores. Nem sequer estou a falar da negligência de suas necessidades básicas, da falta de respeito por seus sentimentos, do controle excessivo, da manipulação pela culpa, ainda que ocultos, durante a infância. Crianças abandonadas, ou com essa sensação, poderão entrar na vida adulta, com uma noção profunda de que o mundo é um lugar perigoso e ameaçador, não confiando em ninguém, porque na verdade não desenvolveu mecanismos para confiar em si mesma. É muito comum a criança se sentir abandonada em famílias muito numerosas, onde há muitos irmãos, e os pais não conseguem dar atenção a todos. Ou quando os pais constantemente estão ausentes pelos mais diferentes motivos, seja em função do trabalho excessivo, viagens, doenças, internamentos constantes, ou até pela necessidade constante de se ausentar por paixão ao futebol, teatro, questões políticas ou partidárias. Alguns pais, inconscientemente, numa tentativa de encobrir sua falta de amor - o que é muito comum, por mais assustador que seja para alguns - declaram muitas vezes seu amor pelos filhos de forma repetitiva e mecânica, como se precisassem provar para si mesmos o seu amor, onde as crianças sentem que as suas palavras não condizem aos seus verdadeiros sentimentos, podendo gerar uma busca desesperada por esse amor, cuja busca pode se estender durante toda a vida. Desculpam-se constantemente que o tempo que passam com os filhos é de qualidade. Ficar só para essas pessoas pode ser uma defesa para evitar novamente o abandono, gerando um conflito constante entre a necessidade de ser cuidado e o medo de ser abandonado. A sensação de ter valor é essencial à saúde mental. Essa certeza deve ser obtida na infância. Ter valor é, não ser preterido por outra qualquer causa, vezes sem conta. Por isso é que a qualidade do tempo que os pais dedicam aos seus filhos indica para elas o grau em que os pais as valorizam. Por outro lado, a criança que é verdadeiramente amada, sentindo-se valiosa quando criança, aprenderá a cuidar de si mesma de todas as maneiras que forem necessárias, não se abandonando quando adulta. Assim como crianças que passaram maior parte de seu tempo com pessoas que eram pagas para cuidar delas, em colégios, mais de oito horas por dia distante de seus pais e que chegam ao fim de semana e estão igualmente sem os seus pais, mesmo tendo tudo que o dinheiro pode comprar, poderão ser adultos como qualquer outra criança que tenha vindo de um lar caótico e disfuncional, crescendo sentindo-se pouco valiosa, não merecedora do cuidado de ninguém, podendo ter muita dificuldade em cuidar de si mesma. A maioria destas crianças sentem necessidade de chamar a atenção, manifestando comportamentos desadequados que trazem por de trás uma intenção positiva. Tornam-se pequenos rebeldes, não aceitam regras e fazem tudo para pisar o risco. O castigo neste caso normalmente agrava a situação pois existe a necessidade de ser compreendido, não de ser novamente abandonado. A maneira com que nos cuidamos quando adultos, muitas vezes reflete a maneira com que fomos cuidados quando crianças. Quando falo nesta sensação de abandono, não significa que o excesso de proteção seja melhor, antes pelo contrário, a criança tem de ter possibilidade de desenvolver as suas competências e noção de responsabilidade, os educadores devem assegurar as oportunidade para que a criança desenvolva a sua personalidade de uma forma autónoma e confiante. Eunice Pinto www.academiadesucesso.pt A minha visão/síntese de um capitulo de um livro que li há algum tempo e que concordo em absoluto. Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem Junguiana e especialização Psicossomática
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Eunice PintoTrainer de PNL Archives
Agosto 2018
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